JORNAL A TARDE - Salvador-Bahia, 08/12/2004

http://www.atarde.com.br/materia.php3?mes=12&ano=2004&id_materia=1220

Cidadania
Especial, sim, mas acessível

A partir de 2005, a Bahia ganhará 100 infocentros com micros preparados para atender aos deficientes físicos

Regina de Sá

O acesso às novas tecnologias ainda é exclusividade de poucos no Brasil. Dados do IBGE referentes a 2003 indicam que 95% dos baianos estão excluídos do mundo digital. Se já é difícil promover a inclusão digital no mundo de hoje, mais complicado se torna quando se trata de fazê-la chegar aos portadores de algum tipo de deficiência física. Na Bahia, por exemplo, aproximadamente 15% da população apresenta algum tipo de deficiência. Outro dado relevante indica que a Bahia é o quarto Estado com maior número de deficientes visuais do País. Embora já se discuta, na sociedade, as formas de acessibilidade das pessoas com algum tipo de deficiência física, visual, auditiva ou mental, a tecnologia ainda está muito distante desse universo de pessoas.

Comemorado, na sexta-feira, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, o caderno apresenta, nesta edição, iniciativas que mostram ser possível superar as barreiras impostas pelas deficiências e avançar no mundo da informática, embora as conquistas, nesta área, ainda estejam muito distantes do ideal.

Uma dessas iniciativas partiu do programa Informática na Educação Especial, das Obras Sociais Irmã Dulce, desenvolvido pelo coordenador Teófilo Galvão Filho, que há 11 anos faz pesquisas em busca de soluções eficazes e de baixo custo para serem adaptadas em computadores e periféricos, possibilitando o acesso de portadores de algum tipo de deficiência física a equipamentos de informática.

Já de iniciativa do governo federal, o destaque é o programa Identidade Digital, que tem por objetivo promover a inclusão digital em todo o País com a instalação de computadores com acesso à internet e cursos básicos de informática à população mais carente. Aqui na Bahia, o programa prevê, na primeira etapa, prevista para 2005, a implantação de 100 infocentros capacitados para abrigar pessoas que não tenham acesso às tecnologias, em bairros e comunidades com maior índice de exclusão digital. Nos infocentros, pelo menos um computador estará preparado para atender aos deficientes físicos com um professor habilitado para o atendimento.

Atualmente, existem seis infocentros no Estado da Bahia, sendo três na capital (Nordeste de Amaralina, Cabula e Pelourinho) e os outros no interior – Vitória da Conquista, Santo Antônio de Jesus e São Félix. “São unidades-piloto - explicou a coordendadora do programa na Bahia, Denise Bezerra - “que servirão de base para outros 300 infocentros que o governo promete inaugurar até o final de 2006.

Adaptação requer criatividade

Apesar do avanço da Ciência em desenvolver novas tecnologias voltadas para essas pessoas, o custo dos equipamentos e acessórios de informática adaptados ainda é muito alto. “Os equipamentos desenvolvidos para deficientes são caros e importados. Um mouse adaptado para o deficiente não sai por menos de R$ 1 mil”, conta Galvão, que resolveu criar algumas peças funcionais, adaptadas de modo caseiro e com excelentes resultados na prática, a um custo quase zero.

Os recursos de acessibilidade, segundo Galvão, são classificados em três grupos: adaptações físicas ou órteses (aparelhos ou adaptações fixadas e utilizadas no corpo do aluno e que facilitam a interação com o computador); adaptações de hardware (presentes nos componentes físicos do PC, nos periféricos, ou mesmo, quando os próprios periféricos, em suas concepções e construção, são especiais e adaptados); e os softwares especiais de acessibilidade (programas especiais de computador que possibilitam ou facilitam a interação do aluno deficiente com a máquina).

Máscara - Uma das ferramentas mais simples e eficientes é a máscara de teclado (ou colméia), uma placa de plástico ou acrílico com um furo correspondente a cada tecla, fixada sobre o teclado, com a finalidade de evitar que o aluno com dificuldades de coordenação motora pressione, involuntariamente, mais de uma tecla ao mesmo tempo ou a tecla incorreta. O aluno deverá procurar o furo correspondente à tecla que deseja pressionar.

Para fazer uso do adaptador, que é importado e custa perto de R$ 1 mil, Galvão teve a idéia de procurar uma empresa local, a Indal Acrílico, especializada em chapas acrílicas para comunicação visual, e levou um molde de teclado para que a empresa desenvolvesse um adaptador para o teclado. O trabalho realizado pela empresa custou R$ 100.

Este é apenas um exemplo dos recursos de acessibilidade colocados em prática e com bons resultados. Há outras soluções em softwares e programas, que exigem, no entanto, o conhecimento das necessidades individuais dos alunos para quem possam ser implementadas de forma eficiente.

www.galvaofilho.net