JORNAL A TARDE - Salvador-Bahia, 07/06/2000

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Novas tecnologias: Trabalho com deficientes das Obras de Irmã Dulce é modelo no estado

O coordenador do programa Informática na Educação Especial, Teófilo Galvão, ressaltou que o trabalho feito por ele e sua equipe é considerado modelo em todo o estado, além de ser acompanhado de perto por representantes de diversas instituições estrangeiras, a falta de equipamentos mais modernos tem prejudicado o crescimento do projeto.
Vivendo apenas dos parcos recursos que as obras de Irmã Dulce recebem, o programa luta para dar uma oportunidade também a outros 30 interessados que aguardam na fila de espera por uma vaga na escola de informática do CRPD.
“Nosso maior problema é que não estamos podendo acompanhar todas as novidades de software e hardware que chegam ao mercado”, revela o coordenador. De acordo com ele, a maioria dos alunos que estão no projeto tiveram um desenvolvimento surpreendente, mesmo aqueles com graves distúrbios.
“Para eles, é difícil sair da situação de passividade em que viviam. Mas, quando o aluno consegue ser sujeito do seu próprio processo de aprendizado, é uma vitória”, constata.

Atividade educacional

Dos alunos que assistem às aulas de Informática, parte é interna do CRPD e outros alunos vêm da comunidade local. Cada um tem pelo menos de duas a três horas/aula semanalmente.
Os professores buscam softwares e jogos educativos que sejam mais apropriados ao desenvolvimento de cada aluno. Galvão contou que chegou a receber na sala de aula jovens que nem sabiam ler e escrever. Outros, com quase nenhuma motivação para qualquer tipo de atividade educacional.
Com tempo e paciência, muitos chegaram a manifestar seus sentimentos com relação à vida e seu dia-a-dia. Alunos como Mércio de Jesus, 26 anos, é um exemplo. Com paralisia cerebral desde criança, Mércio cresceu sem muito estímulo, dada as dificuldades em que vivia.
Ao freqüentar o CRPD, Jesus se interessou tanto pelas aulas que hoje é responsável por um jornal interno do lugar, bem como outras atividades que necessitem de digitação de textos. “O aprendizado de Mércio é um dos mais gratificantes para a equipe”, revela Galvão.
Elsimar Oliveira, 22 anos, já consegue, com a ajuda de um adaptador no teclado, fazer jogos no computador e outras atividades. Tem muito interesse e se mostra entusiasmado com o seu próprio esforço em realizar tarefas antes impossíveis para uma pessoa como ele.
Alunos como Elsimar ainda podem contar com mesas adaptadas, especialmente desenhadas para que uma cadeira de rodas, por exemplo, se encaixe perfeitamente à mesa, sem causar esforço ao aluno.
Outra ferramenta usada é a pulseira com peso, que serve como estabilizador de punho. “Assim, há uma diminuição da flutuação do tônus”, explica o professor. Isso quer dizer, em outras palavras, que haverá um contrapeso como forma de o braço ter maior estabilidade no movimento. Os portadores de lesão cerebral não respondem com a mesma sincronicidade motora que uma pessoa normal, daí a necessidade de adaptadores.
Programas de acessibilidade

Raimundo Félix dos Santos, 37 anos, tetraplégico, consegue utilizar o computador com recursos que não exigem equipamentos sofisticados. Com um programa especial que Galvão baixou pela Internet, a vida de Raimundo não se resume mais ao isolamento.
Ele, com sério comprometimento motor, não usa as mãos e nenhuma outra parte do corpo, mas utiliza o teclado apenas com sopros em um microfone. Assim, Raimundo pôde, pela primeira vez na vida, escrever, desenhar, jogar e realizar tantas outras atividades.
Para baixar o software, que tem menos de 1 MB, o endereço é http://www.xtec.es/jlagares (a página, de uma empresa da Espanha, abriga cerca de 10 programas de acessibilidade para portadores de deficiência severa). Ir na seção Educacion Especial. Além desses, o centro de Informática utiliza o Kidpix e o Mouse Virtual (também da J. Lagares), ambos para desenho e escrita.
O aprendizado não foi só possível para os alunos, mas também para os professores, que puderam desempenhar um papel modificador na vida dessas pessoas. Galvão disse que alguns dos alunos que ali chegaram, embora freqüentassem escolas especializadas, mal aprendiam a ler e escrever.
No entanto, deram um salto em suas vidas, a ponto de desenvolver a leitura e escrita nas atividades do Laboratório de Informática. Conceitos simples no nosso cotidiano, como ver as horas, escrever o nome, fazer um desenho, teclar etc., deram acesso a um novo mundo para os alunos.
Até acessam a Internet e mantêm contato, através de e-mail, com pessoas de outros países. A motivação e a consciência de que há um mundo a ser explorado revelaram-se como algo possível de acontecer.
OS NÚMEROS

250mil
é o número estimado de portadores de alguma deficiência física, motora ou mental existente na Bahia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)

1854
Ano em que D. Pedro II implanta o sistema Braille no Brasil

Logo
Linguagem de programação mais apropriada para aprendizagem do portador de deficiências

4 milhões
Número de deficientes auditivos existentes no país

 

www.galvaofilho.net