Programa InfoEsp - "Informática na Educação Especial"

Programa InfoEsp

MEMÓRIA

 

O Programa InfoEsp - "Informática na Educação Especial"  do Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências (CRPD), unidade das Obras Sociais Irmã Dulce, foi implantado em outubro de 1993 em Salvador-Bahia, atendendo, inicialmente, somente a alunos residentes no CRPD.

Foto de aluno utilizando computador antigo

 

No início, em 1994

Primeiro do gênero no Estado da Bahia, em março de 1995 o Programa recebeu o seu primeiro Laboratório de Informática completo (10 computadores 486, alguns com multimídia, equipamento de última geração naquele momento), por meio de convênio com a Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE, na época, orgão do Ministério da Justiça.

O funcionamento desse Laboratório propiciou, além do aumento no número de alunos matriculados, estendendo esses atendimentos também a alunos da comunidade, um incremento significativo no processo de capacitação permanente e especializado da equipe, com três técnicos sendo envolvidos de maneira estável no Programa. Eventualmente e por períodos de tempo pré-definidos, essa equipe é ampliada com a participação de estagiários de diferentes cursos superiores.

Seis anos depois, em setembro de 2001, foi feita a atualização desses equipamentos já defasados, com a chegada de novos computadores e softwares (13 computadores, webcam, impressoras, scanner, máquina fotográfica digital e novos softwares), divididos em dois Laboratórios, através de convênio com o PROINESP (Projeto de Informática na Educação Especial) da Secretaria de Educação Especial do MEC, assim como a participação da equipe em cursos de aperfeiçoamento.

Em maio de 2005, a partir de um convênio com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) do Estado da Bahia, foi inaugurado o Projeto de Atualização e Ampliação do Programa InfoEsp, com a chegada de 12 novos computadores e a construção de um novo Laboratório de Informática, o terceiro em funcionamento. Esse convênio, junto com a contratação de um quarto profissional para compor a equipe de trabalho, possibilitou a diversificação dos serviços prestados pelo Programa, que passou a atender a uma outra forte demanda existente. Ou seja, o oferecimento de cursos técnicos de informática, em ambiente acessível e adaptado com a Tecnologia Assistiva e as metodologias necessárias, principalmente para pessoas com diferentes graus de comprometimento motor ou sensorial, possibilitando a essas pessoas a aquisição dos conhecimentos em informática, tão necessários nos dias de hoje para a busca de um espaço no mercado de trabalho. Foram disponibilizados dois cursos técnicos:

1- Curso de Informática Básica
2- Curso de Montagem e Manutenção de Computadores

Somente com esses cursos técnicos foi possível formar uma média de 90 pessoas com deficiência por ano.

Alem desses cursos técnicos, o Programa InfoEsp também passou a atender, simultaneamente, a 108 alunos com necessidades educacionais especiais a partir dos 8 anos de idade (pessoas com deficiência física, sensorial e deficiência intelectual), de Salvador e municípios próximos, com duas ou três horas-aula por semana. Nesses casos, o objetivo foi trabalhar o desenvolvimento cognitivo e as possibilidades de comunicação desses alunos, principalmente crianças e adolescentes, utilizando os recursos do ambiente computacional e telemático.

Esses alunos construíam seus conhecimentos por meio da interação com softwares que respondiam às suas necessidades educacionais e de comunicação, detectadas por avaliação e no decorrer das atividades, segundo uma filosofia e metodologia que configurou o paradigma pelo qual optamos: o ambiente computacional como espaço de construção ativa dos conhecimentos e da autonomia, e não de mera execução passiva de tarefas e de atividades pré-estabelecidas.

Tudo isso como um trabalho educacional especializado complementar, e não substitutivo, ao trabalho escolar.

E, com isso, o trabalho apresentou resultados que estimulavam a sua continuidade, aprofundamento e ampliação, resultados esses percebidos em diversos aspectos do desenvolvimento:

a) Desenvolvimento sócio-afetivo:
- Maior motivação e entusiasmo dos alunos para as atividades educacionais.
- Aumento da interação do aluno com o meio em que vive.
- Maior estímulo para o exercício da criatividade.
- Crescimento do sentido de auto-estima.

b) Desenvolvimento cognitivo:
- Compreensão de conceitos e aumento de conhecimentos teórico-práticos.
- Desenvolvimento do raciocínio lógico-dedutivo.

Nesse aspecto foram encontrados, por exemplo, adolescentes com paralisia cerebral que freqüentavam escolas especializadas há vários anos, sem que nunca tivessem conseguido aprender a ler e escrever, e que puderam desenvolver essas capacidades a partir do trabalho no Laboratório de Informática. Alguns deles já prestam, inclusive, pequenos serviços de informática para a instituição e também editam no computador o pequeno jornal do local. Além do desenvolvimento de outras habilidades e conceitos, como a capacidade de ver as horas, o desenvolvimento do conceito de número, comunicação através da Internet etc., construídos em função do potencial de cada um.

Em relação a utilização da Internet, percebemos também que essa atividade influenciou no aprimoramento da comunicação escrita de alguns alunos, através das mensagens de e-mail que são trocadas, além de motivá-los a realizarem pesquisas sobre diversos assuntos na rede. Enfim, desenvolveram habilidades que proporcionam uma melhor interação com o seu meio e uma maior autonomia na resolução dos próprios problemas.

c) Desenvolvimento da psicomotricidade global e fina:
- Maior consciência de possibilidades motoras a serem exploradas.
- Busca de superação de limitações motoras.
- Treino de habilidades de coordenação motora fina.

Para que isto possa ocorrer no trabalho com alunos com necessidades educacionais especiais, freqüentemente é necessário recorrer a diferentes tipos de adaptações
que facilitem, ou mesmo possibilitem, o trabalho no computador, principalmente quando se tratam de alunos com alguma deficiência motora ou sensorial. Esses recursos de Tecnologia Assistiva podem ser ou Adaptações Físicas e Órteses, ou Adaptações de Hardware, ou Softwares Especiais de Acessibilidade.

Com a finalidade de possibilitar o acesso ao computador a alunos com um comprometimento motor mais severo, fizemos uso dessas diversas adaptações e programas especiais de acessibilidade, que tornam o trabalho possível a essas pessoas. É o caso, por exemplo, de um aluno nosso, adulto, tetraplégico, e que só conseguia utilizar o computador por meio de um programa especial que lhe possibilitava transmitir seus comandos somente através de sopros em um microfone. Isto lhe permitiu, pela primeira vez na vida, escrever, desenhar, jogar e realizar diversas atividades que antes lhe eram impossíveis. Ou seja, novos horizontes se abriram para esse aluno, possibilitando que sua inteligência, antes aprisionada por um corpo extremamente limitado, encontrasse novos canais de expressão e desenvolvimento.

Da mesma forma, outros alunos fizeram uso de diferentes adaptações, em função das necessidades específicas de cada um, tais como: máscara de teclado (colméia), estabilizador de punho, abdutor de polegar, simuladores de teclado e simuladores de mouse com diferentes acionadores, opções de acessibilidade do Windows e outras.

Além desses resultados, o Programa InfoEsp tornou-se centro de referência para pesquisa e capacitação de profissionais, sendo convocado, através de membros de sua equipe, por instituições de educação da Bahia, para a formação de técnicos na área, através de palestras, seminários e disciplinas ministradas em cursos de graduação e pós-graduação em instituições de ensino superior, tais como:

- Universidade do Estado da Bahia, UNEB, em Salvador.
- Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, em Ilhéus.
- Faculdade de Educação da Bahia, CEPOM/FEBA, em Salvador.
- Curso de Pedagogia da UNIBAHIA, em Lauro de Freitas.
- Curso Normal Superior das Faculdades UNIME, em Lauro de Freitas.
- Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, em Salvador.
- Faculdade São Bento da Bahia, em Salvador.

O Programa foi chamado a apresentar suas atividades no II Curso de Capacitação de Multiplicadores em Informática na Educação, orientado para a Educação Especial, realizado em Brasília e promovido pelo MEC (Secretaria de Educação Especial - SEESP/MEC), em setembro de 2000, através de seu coordenador que, como palestrante convidado, proferiu a palestra "O Programa Informática na Educação Especial do CRPD: O Aluno Construindo sua Autonomia".

Ao Programa também foi solicitada a apresentação de projetos de capacitação de professores, em Informática na Educação Especial, para diferentes instituições especializadas de Salvador. Em abril de 2000 iniciamos a capacitação dos professores da APAE-Salvador com um curso introdutório de 30 horas, ministrado pelos professores do nosso Programa, tendo ocorrido visitas de alunos e professores da APAE ao nosso laboratório.

O Programa InfoEsp, numa parceria com o ITS BRASIL - Instituto de Tecnologia Social, de São Paulo, começou a desenvolver, no ano de 2007, um projeto de formação de multiplicadores, para coordenadores e monitores de Infocentros (Telecentros), de diferentes estados brasileiros. Esse projeto tem o intuito de possibilitar que os programas de inclusão digital desses estados sejam verdadeiramente acessíveis a todos, levando em consideração as necessidades de acesso e utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação por pessoas com deficiência, disponibilizando as metodologias e recursos de Tecnologia Assistiva indispensáveis para isso. Com esse objetivo, os profissionais do InfoEsp ministraram o curso "Infocentros Acessíveis: Inclusão Sócio-Digital da Pessoa com Deficiência nos Telecentros Comunitários". Esse curso tem uma carga horária de 80 horas, sendo 20 horas à distância pré-curso presencial, mais 40 horas de curso presencial nos Laboratórios do Programa InfoEsp em Salvador, e outras 20 horas à distância, pós-curso presencial. Na primeira turma participaram representantes de seis Telecentros, de cinco estados brasileiros, além de representantes do ITS, entre coordenadores e monitores.

Sobre o Programa foram publicadas diferentes matérias e entrevistas, tais como:

- nos jornais "A Tarde" (07/06/2000, 18/07/2002, 07/07/2004, 08/12/2004), "Correio da Bahia" (06/03/1997, 06/04/2000, 13/04/2000, 07/06/2001, 18/07/2002, 05/07/2004, 22/10/2004, 04/12/2004, 21/05/2005), "Gazeta Mercantil" (17/04/2000, 01/10/2001);

- nos websites do Ministério da Educação - MEC (21/06/2004), da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia (SECTI - 21/10/2004 e 09/12/2004, 20/05/2005), da Fundação Banco do Brasil (09/07/2003) e da Rede de Informações para o Terceiro Setor - RITS (07/11/2003);
- na Revista TV ESCOLA, do MEC 
(ver em:
http://portal.mec.gov.br/seed/index.php?option=content&task=view&id=121&Itemid=256);
- nos noticiários das TVs Educativa, Bahia, Bandeirantes e Aratu;
- no episódio "Democratização da Comunicação" (maio/2003) do Programa "Brava Gente Brasileira", no CANAL FUTURA.
- No Episódio nº 46 do "Programa Especial" (18/01/2005), da TVE - Rede Brasil (RJ).

Em agosto de 2002 a equipe do Programa participou do III Congresso Ibero-Americano de Informática na Educação Especial (CIIEE 2002), em Fortaleza-Ceará, onde apresentou quatro trabalhos científicos, sendo que, como painelista convidado, seu coordenador apresentou o trabalho "A Telemática no Desenvolvimento de Projetos Pedagógicos: Vivências da Educação Especial no CRPD" (clique para ler). Em 2005, também foi apresentado trabalho por componente da equipe do Programa InfoEsp no CIIEE 2005, em Montevidéu, no Uruguai.

No ano de 2001 o InfoEsp recebeu a "Certificação como Tecnologia Social", conferida pelo Prêmio Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil em parceria com a UNESCO, passando a compor o Banco de Tecnologias Sociais dessa Fundação. E em 2007, o Programa InfoEsp recebeu o Prêmio Top Social 2007, conferido pela Associação Brasileira de Agências de Publicidade, capítulo Bahia - ABAP-BA, Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas da Bahia, ADVB/BA e da ACB - Associação Comercial da Bahia ambém

Também em 2007, o Programa InfoEsp foi o vencedor do PRÊMIO RAINHA SOFIA DE REABILITAÇÃO E INTEGRAÇÃO 2007, premiação internacional conferida pelo Real Patronato sobre Discapacidad, do Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais da Espanha (ver matérias sobre o recebimento desse prêmio: Real Patronato sobre Discapacidad, Sobre a entrega do Prêmio, Casa Real Espanhola, Revista Sentidos).

Em função do recebimento do PRÊMIO RAINHA SOFIA, o Real Patronato sobre Discapacidad lançou, na Espanha, as versões impressa e digital de uma publicação sobre o trabalho do Programa InfoEsp (clique para ler). E também uma matéria na revista dessa instituição, disponibilizando, no site do Centro Español de Documentación sobre Discapacidad (CEDD), a versão digital dessa publicação (clique para ler).

Como Centro de Pesquisa, no Programa foram sistematizados diferentes estudos, dos quais destacamos:

1) Pesquisa sobre "o desenvolvimento do conceito de número no ambiente Logo de aprendizagem com alunos portadores de paralisia cerebral", que resultou em monografia aprovada pelo "Curso de Especialização em Informática na Educação" da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em 1996, apresentada por membro da equipe do Programa.

2) Foi estudada, também por componente da equipe, "a relação entre o vínculo afetivo e a aprendizagem em indivíduos institucionalizados e portadores de deficiências", trabalho examinado e aprovado pelo "Curso de Especialização em Projetos Educacionais e Informática" do Centro de Estudos de Pós-Graduação Olga Mettig, da Faculdade de Educação da Bahia (FEBA/CEPOM), em 1998.

3) Ao longo desses anos, tem sido alvo permanente da preocupação e estudos da equipe a construção e captação de novas adaptações e recursos de Tecnologia Assistiva, que facilitem, ou mesmo possibilitem, o trabalho no computador a alunos com diferentes níveis de comprometimento motor, pesquisas desenvolvidas sempre em função das necessidades concretas dos nossos alunos.

4) Foi desenvolvida, no laboratório do Programa, a pesquisa intitulada "Ambientes computacionais e telemáticos no desenvolvimento de projetos pedagógicos com alunos com paralisia cerebral", para a elaboração da dissertação do Mestrado em Educação, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), por componente da equipe (resumo).

5) Também foi desenvolvida a pesquisa sobre "o processo de alfabetização de portadores de deficiência múltipla através de recursos das tecnologias da informação e da comunicação", para a elaboração de monografia do "Curso de Especialização em Alfabetização Infantil", pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), também por componente da equipe.

6) Pesquisa "Tecnologia Assistiva para uma Escola Inclusiva: apropriação, demandas e perspectivas"  para a Tese de Doutorado em Educação (resumo), por componente da equipe, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Em função de diferentes fatores detectados e vivenciados na nossa realidade e comunidade, dos quais destacamos:

a) o real e acentuado atraso no desenvolvimento global da quase totalidade das pessoas com alguma deficiência que nos procura, a grande maioria proveniente de famílias de baixa renda;

b) o fato de que ainda não sejam encontrados com facilidade, nas estruturas educacionais oficiais de nossa comunidade, nem a infra-estrutura de novas tecnologias a serviço da Educação Inclusiva, e, em muitos casos, nem modelos pedagógicos que realmente confiem e apostem nas capacidades e iniciativa do aluno com necessidades especiais, na construção de seus próprios conhecimentos e de sua autonomia;

este trabalho, como um programa específico de utilização da informática na educação de alunos com necessidades especiais, teve confirmada sua viabilidade e relevância, ao longo dos seus mais de 15 anos de existência, principalmente pelos significativos resultados alcançados, entre os quais podemos destacar as transformações e saltos na qualidade da postura, de um grande número de alunos, em relação a sua própria vida, o resgate da sua auto-estima, a vivência e valorização de seu processo de aprendizagem e interação com o mundo, e a inclusão sócio-digital desses alunos, conforme relatado acima.

Todo o caminho e resultados aqui relatados apontaram para a importância do aprofundamento sempre maior e multiplicação de trabalhos como este, o qual preencheu, em nossa comunidade, uma lacuna entre as atividades essenciais para o desenvolvimento e autonomia de alunos com deficiência, num mundo que cada vez mais exige do cidadão uma participação ativa e criadora. Com maior eficácia ainda se todo o trabalho de Informática Aplicada à Educação, com os paradigmas aqui propostos, for conduzido, cada vez mais, em um contexto abrangente de Escola e Sociedade Inclusivas, meta para a qual o trabalho do Programa InfoEsp sempre buscou apontar e contribuir.


Salvador, Bahia, Brasil - 2009