Londres, 2 dez (EFE).-
O físico britânico Stephen Hawking revelou nesta
terça-feira uma nova plataforma para permitir
uma maior fluência em sua comunicação apesar da
paralisia causada pela esclerose lateral
amiotrófica (ELA), diagnosticada há mais de 50
anos.
Foi a primeira atualização do programa em 20
anos. Com ele, o cientista é capaz de selecionar
letras e palavras enviadas a um sintetizador,
que reproduz em voz alta seus pensamentos. Na
nova versão, no entanto, ele se recusou a
modernizar a voz robótica do aparelho,
transformada em uma de suas marcas.
Aos 72 anos, Hawking colaborou com engenheiros
da Intel para desenvolver a nova plataforma. O
código será divulgado de forma gratuita nos
próximos meses, com o objetivo de melhorar a
vida de milhares de pessoas em todo o mundo,
comentou o cientista.
Em uma apresentação para a imprensa em Londres,
Hawking, autor de diversas teorias sobre buracos
negros e um dos cientistas mais famosos das
últimas décadas, detalhou que o novo software
permitirá multiplicar em dez vezes sua
produtividade. Além disso, será permitirá que
ele fale com velocidade duas vezes maior.
O sistema é baseado em um algoritmo de texto
preditivo similar ao incorporado em smartphones,
capaz de adivinhar a palavra que Hawking está
tentando dizer a partir da digitação das
primeiras letras. O programa também aprende as
expressões utilizadas frequentemente para
acelerar o processo.
A interface física é formada por um sensor
infravermelho instalado nos óculos de Hawking,
capaz de detectar os movimentos da bochecha do
cientista. Com elas, ele pode selecionar os
caracteres e navegar pelos menus da tela.
Além de pedir que os engenheiros mantivessem a
voz robótica do sistema, Hawking solicitou
também que não fossem feitas alterações no
design do programa por já estar acostumado com a
antiga versão, usada por ele há mais de 20 anos.
A plataforma, que teve a colaboração da empresa
britânica SwiftKey, facilita, além disso, a
realização de tarefas que antes Hawking
precisava de ajudar para executar, como anexar
arquivos em um e-mail.
"Com as melhoras que fizemos sou capaz de
escrever muito mais rápido. Isso significa que
posso seguir ditando conferências, escrevendo
artigos e livros, e, certamente, falar com minha
família e amigos com mais facilidade", afirmou
Hawking, que nos últimos anos só era capaz de
"dizer" à máquina uma palavra por minuto.
A capacidade de fala de Hawking começou a se
deteriorar devido à doença no final dos anos 70,
quando foi obrigado a usar um intérprete para
ser entendido por pessoas que não o conheciam
bem.
Em 1985, após uma grave pneumonia, perdeu
totalmente a fala durante um curto período,
passando a se comunicar exclusivamente por meio
de cartões com letras impressas, selecionados
por outras pessoas a partir dos movimentos de
seus supercílios.
Pouco depois, o engenheiro David Mason, da
Universidade de Cambrigde, desenhou o primeiro
sistema portátil que permitia Hawking a se
comunicar com uma velocidade de 15 palavras por
minuto. Mas a fluência também se deteriorando no
mesmo ritmo do sistema nervoso do cientista.
O físico, que ocupou por três décadas a mesma
cátedra de Matemática em Cambrigde que Isaac
Newton, afirmou que sem o novo software não
seria capaz de falar hoje.
"A tecnologia está abrindo possibilidades que
antes só podíamos imaginar", disse Lama Nachman,
engenheira responsável pelo projeto, que
concordou com Hawking sobre as barreiras
intransponíveis que agora estão sendo rompidas
pela inteligência artificial.
No entanto, Hawking advertiu que os esforços por
desenvolver computadores inteligentes, até agora
úteis, podem colocar a humanidade em perigo caso
os robôs sejam capazes, no futuro, de tomarem o
controle dos sistemas e se reprogramarem. EFE.