Em busca de igualdade, jovem com
paralisia cerebral se forma na Universidade no RS
Após lutar na Justiça para
conseguir fazer a prova do Enem e ter que lidar
durante toda a vida com sentimentos de pena e
descrédito, o estudante Guilherme Finotti, 20 anos,
portador de paralisia cerebral, conseguiu se formar
em Sistemas para Internet pela Universidade Feevale.
A Formatura ocorreu na sexta-feira à noite em Novo
Hamburgo, distante 50 quilômetros de Porto Alegre, e
marcou o final de uma das mais difíceis fases da
vida do jovem, marcada pela busca de tratamento
igualitário.
"Estou me sentindo muito feliz por mais uma etapa
concluída, por estar me graduando em uma profissão
que escolhi e pela qual sou totalmente apaixonado.
Não foi fácil chegar até aqui. Qualquer PCD (pessoa
com deficiência) que chega onde estou, com certeza,
em algum momento sofreu preconceitos. No meu caso
não foi diferente. O que não contávamos é que esse
mal se faria presente quanto falamos do próprio MEC
(Ministério da Educação)", disse Guilherme em
entrevista por e-mail, na véspera de sua formatura.
Quando fala do MEC, Guilherme se refere ao processo
que teve de impetrar na Justiça para conseguir fazer
a prova do Enem usando seu computador com teclado e
mouse adaptados. "Depois que foi para a promotoria e
quando a mídia em massa entrou, eles abriram essa
'exceção'. Se fizeram a lei da inclusão e as escolas
deram o suporte que a lei indicava, como é que o
Ministério da Educação não daria?", questiona a mãe
de Guilherme, Eunice, ao relatar as dificuldades que
enfrentou enquanto batalhava pelos direitos do
filho. "Eles diziam que para todas as mães os filhos
são inteligentes. Mas eu argumentava que não era eu
que estava dizendo, mas sim a escola, as notas
dele", completa.
A nota de Guilherme foi tão boa que ele conseguiu
uma bolsa na universidade, além de ter sido bolsista
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) em um projeto no qual desenvolveu
um software de diagnóstico para portadores de
paralisia cerebral. No entanto, ele teve que se
afastar da iniciativa no final do ano passado,
quando foi contratado para trabalhar na Feevale.
"Apenas ando sobre uma cadeira de rodas e uso
algumas adaptações que me ajudam em minhas
atividades diárias, no resto, sou igual a você. Não
me considero diferente de ninguém. Todos têm
dificuldades, alguns mais visíveis, outros menos",
afirma Guilherme.
A paralisia cerebral do formando foi provocada por
complicações que o deixaram sem oxigenação durante o
parto. Quando ele tinha pouco mais de 2 anos, os
médicos perceberam que ele havia sofrido sequelas,
mas, pouco tempo depois, descobriram que seu
cognitivo havia ficado intacto, apesar da
deficiência motora. "Ele tem dificuldade de falar,
mas quem está próximo entende", diz a mãe, ao
relatar que, apesar do filho optar pela
independência, ainda precisa de ajuda dos pais. "Se
eu apoiá-lo pelo ombro, ele consegue andar, mas ele
prefere usar a cadeira elétrica para ser
independente".
"É muito ruim ser visto como o coitadinho"
Apesar das necessidades especiais, Guilherme sempre
lutou para ter tratamento igualitário. Ele estudou
em escola pública convencional, mas, ao invés de
carregar um caderno, guardava o conteúdo em
disquetes e pen drives. Ele conta, inclusive, que
sua infância foi normal. "A cadeira de rodas nunca
me impediu de aprontar com meus amigos, dentro e
fora da escola".
O colégio em que estudou teve de implantar sistemas
de informática, e os professores tiveram que
aprender a usar o computador para acompanhar o
jovem, que sempre se destacou nas ciências exatas.
"É muito ruim ser visto como o incapaz, como o
coitadinho, como o diferente, entre outros
sentimentos que as pessoas, mesmo sem querer,
passam", diz Guilherme.
O próximo passo é se aprofundar nos estudos em busca
de uma carreira bem sucedida. "Pretendo me
especializar muito mais em minha área, fazer cursos,
ter uma carreira consolidada e bem sucedida,
conhecer vários lugares", conta.
Eunice diz que aqueles que não conhecem a paralisia
cerebral, acreditam que se trata de uma condição
vegetativa e não imaginam ou não acreditam que essas
pessoas sejam capazes de feitos como os de
Guilherme. "Quase a totalidade das pessoas é assim,
tem muita gente que não acredita", diz a mãe ao
falar sobre as impressões que a notícia da formatura
do filho causa nas pessoas.
"O Guilherme tem que matar um leão por dia, todo dia
ele tem que provar que é capaz, que é igual aos
outros. E as pessoas olham sempre com desconfiança",
completa Eunice.
O sentimento da mãe hoje é o de dever cumprido. "É
claro que você nunca está preparado para isso (ter
um filho com necessidades especiais), é uma coisa
que acontece, mas nunca se está preparado. No
primeiro momento foi um choque, mas depois a reação
foi de ir à luta, por isso optamos por não ter mais
filhos, para que pudéssemos estar à disposição dele,
para poder desenvolver ao máximo as capacidades
dele, e hoje a gente diz que esse é um momento de
glória".
FONTE:
http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI6047769-EI8266,00-Em+busca+de+igualdade+jovem+com+paralisia+cerebral+se+forma+no+RS.html
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